Mensagens

O checo - Prólogo

U m sol fresco e agradável, envolvente, bateu-lhes na cara com alguma violência, obrigando-os a semicerrar os olhos instantaneamente. Como sempre saíram à rua os dois, Jana para o seu trabalho na Universidade, ele em direcção ao Conservatório da cidade, onde era o mais jovem professor de violoncelo. De longe, não muito longe, chegava-lhes um som estranho, irreconhecível, de como quem estivesse a triturar pedra. Com o som, aperceberam-se de uma forte vibração, que a sentiam no pavimento de paralelepípedos, típicos do centro da sua cidade. Ao dobrar da esquina, à entrada da praça, os olhos de ambos não podiam acreditar no que viam. Uns cinco ou seis tanques percorriam a praça, dando tiros na direcção de um pequeno grupo de jovens barbudos, jovens de mais, para morrerem sob o canhão desses tanques. Miroslav instintivamente abraçou Jana, e continuaram a dirigir-se para a praça, sem perceberem porque o faziam. Talvez para tentarem saber e entender o que se estava a passar.... Por eles pas...

As recordações, a ansiedade e saber...viver!

Imagem
Quando me tento lembrar de alguma doença que tenha tido em jovem, na infância ou já na adolescência, vêm-me recordações de apenas alguns aspectos desses tempos. Não tive nem muitas, nem grandes doenças, nem acidentes, felizmente. Tive porém uma febre reumática, algures pelos meus doze anos, talvez antes, talvez depois. Não me recordo, pois, do momento e idade exactos. Nem de muitos aspectos relacionados. Lembro-me, no entanto, de ter ficado sem força e capacidade nas pernas e de, por uns dias, também não sei quantos, ter ficado de cama. A Febre Reumática pode trazer consigo outros problemas, como algumas sequelas a nível cardíaco, que felizmente também não tive. Confirmei tudo por mais de uma vez, com exaustivos exames, uma vez que gostava e gosto de praticar desporto com alguma intensidade e exigência a nível físico. Não gosto de desportos muito brandos, que pouco exijam de mim, fisicamente.  Mas a minha mente, não me permite recordar mais pormenores desses tempo, do que os que...

Olhar as Flores como elas Merecem

Imagem
As vezes, passeando numa tarde quente, observando as primeiras flores da Primavera, procurando sempre encontrar uma que seja mais rara, que se distinga das demais, que seja efectivamente única...nem sempre, mas pode acontecer que se encontre... A maioria das flores, vibrando ao ritmo de uma brisa morna, trepidantes com as visitas dos insectos, ainda poucos nesta altura do ano, são bonitas, mas muito frequentes, quase banais. Sempre com a sua beleza, principalmente se olharmos de perto. E elas ali estão para isso, para as vermos com mais cuidado e atenção, e não numa apenas visão de conjunto... ...se as olhamos uma segunda vez, conseguimos ver detalhes que na nossa habitual pressa e desinteresse, no nosso descuido geral, não havíamos visto. E sempre se descobre algo mais, no que julgávamos ser mais uma flor, igual a tantas outras. Mas não será assim, ou mesmo....nunca é. E seguindo por esses banais prados de arrabaldes de uma cidade, baldios à espera do seu juízo final, também co...

PSD: O Congresso

Pelo pouco que já vi...o PSD de há uns anos...está a cair e cair... Só se ouve alguma coisa que faça sentido, alguém que saiba falar, da boca das mesmas pessoas de sempre. Uma tristeza! É certo que no PS as coisas não estão, nem nunca foram melhores. Mas há cada indivíduo a falar... Castanheira Barros, um advogado! Como pode este homem falar num tribunal? E este senhor queria ser líder do PSD?! Mas há muitos mais... Os Partidos não têm cuidado da sua própria gente, e da sua formação, do surgimento de líderes para o Futuro. Ora, pergunto-me se isto é assim, como se pode esperar que o país venha a ser diferente. Não há grandes ideias, exceptuando os mesmos de sempre... Mas, enfim, esperemos mais um pouco, sendo certo que não se consegue acompanhar aquele desfile de disparates e idiotices, de quem procura ouvir-se e fazer-se ouvir, julgando-se a si mesmo, com toda a incapacidade discursiva, todo o vazio de ideias e uma total, total, falta de habilidade e dom de palavra...esse co...

Noite

Imagem
A noite tantas vezes traz sentimentos fortes, algo contraditórios. Traz angústia aos que sofrem, talvez por ter chegado o fim de mais um dia e tudo nas suas vidas permanecer como estava, antes dela chegar. A noite traz promessas de felicidade a outros, aos que a esperam por ser ao final de cada dia que se podem entregar aos sentimentos e aos prazeres. Traz o melhor do dia a esses que se amam, e horas únicas no seu silêncio privado.  A noite traz alegrias, pelas festas que traz, paródia e boa disposição, música com tempo para ser ouvida, descontracção a outros. A noite pode ser uma festa, e é-o para os de boa atitude e que passam bons momentos, na fase em que se encontram.   A noite traz a maior tristeza do mundo aos infelizes e aos solitários, que não sabem ou não podem ou querem sair do seu deserto. A noite é um buraco desconhecido para as crianças que vivem uma solidão atroz e injusta. Traz os medos do desconhecido e da entrega ao descanso diário, aos que, idosos ou doe...

Princípios

Imagem
Princípios. Todos temos. Sem excepção. Cada um tem os seus. Todos são respeitáveis. Os princípios que nos guiam, conduzem pela vida fora. Na minha óptica pessoal não têm, nem devem ser rígidos. Mas tal não depende apenas de nós. Depende também de, com quem nos relacionamos e da evolução, ou regressão, por vezes, que a nossa vida leva. Depende da aprendizagem que fazemos com outras pessoas. Mas o meu interesse neste texto é deixar o meu ponto de vista, parcial e pessoal, como sempre. Um direito individual. Quem está contra, está-o. Direito seu. Para mim os princípios, os meus, está bem de ver, não têm quase nada, ou nada, a ver com tradições e heranças educativas. Bebem nesses fontes, sim. Os princípios inspiram-se na educação que recebemos, no meio social em que crescemos e, mais tarde, vivemos, já adultos, mas são tão mais importantes e significativos quanto mais de cariz pessoal se revestirem. Passo a exemplificar alguns desses princípios. Mas há muitos mais. Na ed...

Humildade

Não há nada que exija mais de nós mesmos, do que no momento certo sabermos esquecer o grande ou pequeno orgulho e as nossas autodefesas pessoais, para nos conseguirmos encontrar, efectivamente encontrar, não no sentido físico, mas no intelectual e psicológico, com outra pessoa. A difícil escolha é saber se o esforço de humildade e de capacidade de auto-análise, vale a pena perante o que queremos e decidimos ter de fazer. Seja mantermos uma amizade, em circunstâncias difíceis, ou de duvidoso futuro, seja uma relação sentimental, seja ainda no plano familiar, quando por alguma razão as relações sofreram um abalo. Mas nesse momento, em que, 'encolhemos as unhas', em que abrimos bem os olhos, os ouvidos e os braços, sabemos, temos de saber, que estamos a praticar um acto de humildade mas também de muita inteligência e coragem. Esse momento valoriza-nos. Há que ter o discernimento e a força para tal. Já me aconteceu ter de prescindir da minha atitude de controlo de uma situaçã...