«Dois anos antes de sair de casa, o meu pai disse à minha mãe que eu era muito feia». Com esta frase começa Elena Ferrante o seu mais recente romance editado em Portugal pela Relógio D´Água. A história é a da descoberta da identidade de Giovanna, de Nápoles. Podia começar com aquela frase, ou com outra qualquer, de inspiração (ou profunda mágoa) de outro autor. Karl Ove Knausgard, norueguês, na sua epopeia autobiográfica, foi-nos passando revelações da sua vida, do mundo como o via, de inconfessos momentos. Não sabemos as motivações de Ferrante, como nem a conhecemos fisicamente, nem à sua própria história. Mas que só pode ter sido enriquecida por emoções fortes, de momentos fortes, parece plausível. E quem não tem da sua vida mais do que uma visão? Podemos não ter mais do que uma visão, porque parte dessas outras opiniões ficam com os que nos vão conhecendo. Não tenho, porém, grandes dúvidas sobre sermos uns, aos nossos olhos, e outros e outras aos olhos de outrém. Fa...