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Nunca é suficiente

A sensação era incrível, incrivelmente estranha. De uma plenitude frustrante. Sentado num café, pela estrada fora, ou num intervalo entre duas coisas quaisquer, a sensação era de nunca haver tempo que chegue, quando se quer viver intensamente, aprendendo, apreendendo e tentando entender. Entender a vida, não. Mas coisas. Partes da vida, partes de coisas. Servir-se da linguagem, explorando-a, usando-a na relação com todos, explicando para poder vir a aprender. Ficar um dia sentado a tentar entender tanto de que ainda não conhece resposta. Só o desafio e a experiência valeram e haviam de valer o esforço de uma vida.

Esse estranho uso da esquiva capacidade criativa que todos temos

É o tempo. É do tempo. A desculpa menos convincente que nos damos, para a desistência diária de uma actividade criativa. O tempo que não temos, o que pensamos não ter e até do raio do clima que parece querer implicar com estes poucos quilos em cima dos ombros. A activdidade de um escritor, daqueles a sério, que não se ficam por contar uma história, que nos agarra e nos põe a pensar, como será, de tão transcendental nos parece? De escritores a sério, falo de um Phillip Roth, ou de um Herman Hesse (este génio devia ter as palavras todas já feitas e organizadas em formas poéticas, em formato filosófico ou apenas prosa, mas uma que não se fica pelo apenas. Isso é para nós. Hesse devia ter um cérebro na ponta dos dedos, para além do que nós quase que temos, e carregamos aos ombros. E Steinbeck? E tantos... Que faziam no dia a dia estes criadores desta arte de encher papel branco com contruçoes frásicas perto ou para além do transcendente? Teriam também que pensar na limpeza da casa, na ...