A luz que é preciso ver
Ao fundo, aproximava-se uma nuvem que não era bem-vinda, porque vinha carregada de tudo o que não era esperado, nem desejado. Mas não se sabia. O dia começara havia pouco e num céu que queria ficar azul, havia esse anúncio que não se adivinhava. Normalmente, não dava qualquer importância a uma simples nuvem pressagiante, pois presságios, adivinhações ou determinismos não eram da minha esfera de preferências. E o dia foi andando e não foi andando bem. Sempre recebia essa luz, pouco a pouco, uma e outra vez, e a queria receber e nem ela a conseguia ou sabia receber bem. Foi-se consumindo o dia, porque todos se têm de gastar. Uma fatalidade, por vezes abraçada, por vezes detestada. Num dia branco, sem ocorrência que se quisesse memorizar, querer-se-ia que continuasse branco, até que a negra noite o apagasse de vez. Foi música e leitura, poucas. Foram pensamentos parvos e ansiedade e tudo continuava à espera de correr bem, antes que a dança acabasse, antes que se apagassem...