Renovação precisa-se!


Em momentos de calamidade (nem sempre assim logo identificados), desenvolve-se a oportunidade do surgimento de novas ideias, criando-se rupturas positivas que podem fazer sociedades avançar.

No início de 2020, poucos podiam aventurar-se a prever as actuais reflexões e interrogações sobre o andamento do mundo em termos geopolíticos. O mundo (ou boa parte das notícias sobre ele) andava ocupado com os assuntos de 2019: Trump, Bolsonaro, alterações climáticas, (pseudo) sucesso económico português, impasse político espanhol, perda de influência e de capacidade de decisão europeias, revoltas populares em Hong Kong...

Entre Fevereiro e Março, o Mundo iniciou um processo de adaptação a uma realidade que alguns dizem ir mudar tudo, ir-nos mudar a todos, e eu acredito que pouco mudará. Mas se não mudamos, como a urgência climática nos exige, uma exigência, não com a premência de uma pandemia grave e de rápido avanço (se não devastação, e se não sanitária, económica), mas com a importância bem mais acrescida.

Hoje até nos interrogamos sobre o mais grave que nos pode acontecer entre a pandemia do Covid-19 e as alterações climáticas. E boa parte dos humanos ainda não conseguiu observar a nova realidade e mudança acelerada (não gradual) e persistente do clima mundial. Evidentemente, uma pandemia tem efeitos bem mais catastróficos porque imediatos e humanamente extremamente impactantes, do que um clima que parece estar louco. Parecer louco, e não se entender, são as únicas opiniões que parecem emitir-se, de forma mais ou menos universal, sobre o assunto.

Estamos a viver um momento de desconhecimento e, de forma compensatória, de aquisição de novos conhecimentos a nível científico e social, a um ritmo que nos apanhou, em geral, desprevenidos. Não se sabe bem o que o amanhã nos pode trazer, em relação a esta ou outras epidemias, ou em relação ao clima, regionalmente ou em termos mundiais.

Mas não é apenas um momento de adaptação a novas realidades e eventuais mudanças, o que vivemos, pelo clima ou por uma epidemia viral. Se o clima não nos permitir grandes recuperações do ambiente anterior, as epidemias podem tornar-se o maior terror da história da Humanidade, outras mudanças se impõem e, se nem todos sentimos essa necessidade, elas estão a caminho, como sempre em tempos como o que vivemos, e terão impacte político e económico, como nunca.

Se a China foi até umas centenas de anos a civilização mais avançada, pelo menos nos indica o estudo da História que assim pode ter sido até ao início do século XV, com os descobrimentos portugueses, e mais tarde com a Revolução Industrial (hoje tida como a causa inicial das alterações climáticas), durante cerca de duzentos anos, ou mais, o Ocidente liderou o Mundo. Hoje, a liderança ocidental parece ir-se desvanecendo, perdendo força, ou mesmo já não ser realidade. 

Mas se a liderança Ocidental foi acompanhada pelo crescente Humanismo, respeito por outros, mesmo que com um mau começo de abusos europeus, mais tarde corrigido, a Democracia marcou a civilização tida como liderante, como em nenhuma outra região do mundo, concretamente de onde hoje se pretende ver vir a nova liderança. Ou seja, os novos líderes mundiais, se assim se concretizasse, seriam os que não gostam da Liberdade, do respeito por outros, por outras ideias e, assim, pela Democracia. 

Porque se perdeu a liderança do Mundo livre e democrático e parecemos agora catastroficamente ameaçados por uma civilização inimiga destes nossos valores? Dos mesmos valores que pretendemos repetidamente exportar para outras regiões, com muito pouco sucesso?

O Mundo sempre avançou em passos largos e saltos civilizacionais, por via do Pensamento. Nunca por via económica e comercial, política, beligerante ou outra. Foram as ideias que, adoptadas por gerações de políticos ou de empresários mudaram este Mundo. E serão de novo as ideias, ainda que não pareça, ainda que muitos não o consigam ver. 

A China nunca mudará ou sequer liderará o Mundo, precisamente por a Ideia da China, como país autoritário, centralizado, anti-democrata, totalitário sem humanismo, não é aceite noutras regiões. Não bastam os sucessos comerciais, nem os cada vez mais propalados avanços tecnológicos. A tecnologia dominante, moldada por ideia, surgida delas e mudando outras... foi muitas vezes o início de um novo rumo. Foi assim com a Revolução Industrial, que ainda assim não mudou o Mundo por si mesma. Mas muito menos uma potência comercial que ameaça todos os demais pela imposição da sua forma de governação e a sua ideia totalitária. 

E, no entanto, uma ausência de liderança noutras regiões do globo, como na Europa e na América, pode por em causa, que acredito ser temporária, a continuidade do modo de vida livre e democrático. Temos visto sinais do Disparate, próprios de sociedades sem visão e sem rumo, com as "modernidades" absurdas do politicamente correcto: até os termos que se usam devem ser medidos. Branco, é um desses termos, mesmo aplicado a...pessoas efectivamente brancas, e produtos! Disparate, é pouco para rotular estes assomos de irracionalidade, felizmente não generalizada, mas cada vez mais assumida por líderes fracos e medíocres. O ridículo faz agora parte dos nossos dias. Mas não veio para ficar. É próprio de tempos de mudança, de tempos de perda de rumo ou de visão, precisamente por serem liderados por não-lideres, gente pobre de ideias e de consistência ou solidez intelectual. 

Sente-se até no ar a urgência da Renovação, da necessidade de novas ideias. Pode parecer a muitos que as ideias estão todas elaboradas, consumidas, gastas e nada mais irá surgir. Mas é nisto que a História é sábia e desmente essa descrença. Mas o apelo a elas é fundamental. A Ciência está diariamente a avançar e a ritmos nunca vividos. Talvez por isso, a dificuldade em conseguirmos ver ou termos testemunho de Ideias novas, para que o mundo possa resolver e ultrapassar a ameaça climática, a ameaça sanitária e a mais perigosa de todas, a ameaça contra a Democracia e a Liberdade. Que é bem real!

Tal como uma planta que deixa que morram partes dela, para permitir a renovação, alguma parte deste mundo que assim conhecemos teve ou tem ainda de sofrer alterações profundas, passar por momentos de susto e de medo, de desaparecimentos... para que a renovação se dê.


Comentários

redonda disse…
Que será este.

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