Coletes de Libertação

Em França, uma vez mais em França, onde não sei se haverá mais coragem, mas seguramente muito menos necessidade, necessidades, iniciou-se um processo de transformação do regime político, pelo movimento de Coletes Amarelos. Isto não é uma Revolução! Também só seria preocupante se o fosse, do lado de órgãos de poder actuais, ou de uma população preocupada ou assustada com o agigantamento de uma onda de violência, a que se perdesse o controlo. A sensatez lembra-nos que devemos aguardar, para ver os desenvolvimentos seguintes e, se os há ou não, os limites, dos meios usados, ou das exigências (não aprecio o termo reivindicações, demasiado colado a ideologias marxistas, as mesmas que um dia podem ter posto um travão noutro género de tirania e, depois, levaram o termo a extremos nunca conhecidos.

Mas interessa-nos Portugal. Porque o país independente mais antigo da Europa (se não dermos essa palma de honra a San Marino como país e independente de outros) nunca conseguiu, nos últimos cem anos, sair de um sub-desenvolvimento hoje disfarçado de equipamentos sociais e meios económicos de país desenvolvido. 



Quarenta anos, nos tempos modernos, serviram muito mais para criar uma nova classe de favorecidos, sempre com a retórica de alguma falsa humildade e de tudo fazerem pelo país e pelo seu povo, do que para, de uma vez, fazermos justiça a uma história longa de de longa estabilidade fronteiriça. Quarenta anos que parecem estarem a ser engolidos, se não ameaçados, por uma nova nomenklatura, bem mais arrogante e descarada, do que alguma vez se viu. E porquê mais arrogante, mais perigosa e muito mais descarada? Porque aprenderam a usar de um instrumento a seu favor, a seu favor total: a própria Democracia.

Mais de duzentos anos após o Iluminismo europeu, a classe política reaprendeu e ressuscitou a prepotência, a arrogância e o descaramento, usando e abusando de poderes hoje muito perigosos e muito difíceis de enfrentar: a propaganda pelos novos meios de divulgação social, as redes sociais, não serve apenas os desorganizados indivíduos, que podem insultar, cometer excessos, mas serão muito mais autênticos, espontâneos e, principalmente, legitimados pelo que vivem e continuam a sofrer, do que os órgãos políticos e os seus agentes sem escrúpulos. 

Hoje, a Justiça perdeu o respeito e a confiança dos portugueses, neste concreto em muito mais grave situação do que os povos parceiros e amigos europeus. A Economia, se devia diversificar-se, cai a cada momento nas mão de poderes económicos oligárquicos, sem que o indefeso consumidor tenha opção alguma. 

Um poder político totalmente ilegítimo, numa Democracia ainda jovem, que necessita ainda de ganhar a credibilidade do povo, usa de meios de manipulação a todos os níveis, e teve para tal um grande Mestre do controlo e manipulação distorcida, Mário Soares, muito bem seguido pelo desprovido de ideologia, mas sequioso de protagonismo e de necessidade de alimentar uma incomensurável vaidade pessoal, José Sócrates. Costa foi mais um aprendiz da arte de transformação da Democracia numa oligarquia perigosa. Costa, medíocre e pouco inteligente, sabe, porém usar as armas dos espertalhões de feira, a seu favor. E bem que as usa.

A Oposição, outrora poder, nunca soube e nunca quis usar dos mesmos meios, de manipulação da opinião, como a colocação de indivíduos facciosos de matriz socialista, em órgãos vitais, que se estendem da Justiça, à Educação (com manipulação de textos e livros usados "oficialmente", imposição de um absurdo, desnecessário e idiota Acordo Ortográfico), instituições policiais e outras, de todo o género (género não é sexo...), comunicação social...e por aí fora. Um polvo! Uma máfia que usa as ferramentas da Democracia em seu proveito. 

Um povo adormecido precisa por vezes de um estímulo. Um povo que está adormecido por comodismo, por receio ou por falta de informação. É natural, dado o estado das coisas que o Estado foi gerando. Hoje, tudo quem não pertence ao Estado, não tem meios de comunicação dos seus anseios, e não referências para confrontar divergentes opiniões, ou a classe política actual.

A cada dia este povo antigo, sente a desesperança na carne. Sente os falhanços do Estado que o devia proteger e vive o medo da próxima desgraça, seja uma ponte que cai, um novo incêndio devastador, ou uma catástrofe económica para a qual não vislumbra meios nem de evitar nem de aguentar e enfrentar.

Um poder sem bases sólidas, sem confiança na sua própria praxis, ameaça todos os que se lhe opõem, todos os que possam duvidar do que fazem os políticos que tomaram o poder sem base democrática, leia-se eleitoral e, como tal, pelo povo soberano (vide Constituição da República Portuguesa), todos os que se proponham enfrentar e pôr em causa o seu estatuto. 

Mas é este mesmo poder que tem de ser questionado, exigido e posto em causa, em última instância com o derrube, democrático de um sistema que em quarenta anos não serviu o país mais antigo e o seu povo que nunca passa de um povo pobre e pouco esclarecido. Mas nunca por sua culpa ou opção.

É este mesmo poder autoritário e adversário confesso da Democracia que ameaça quem pretenda mostrar-se descontente, desiludido. O mesmo poder que negoceia com corporativismos (estes mesmos bem instalados e confortáveis nem arriscam mais do que o sistema prevê, pelos meios viciados do costume, que hoje não servem uma Democracia justa e moderna, pelos desequilíbrios e desigualdades que geram: os órgãos sindicais). E não tem este poder qualquer pejo ou auto-limitação no incitamento à violência por parte de polícias, eles mesmos vítimas de injustiças e desfavorecimentos, violência que não está nas mentes e nas previsões de quem espontaneamente pretenda manifestar-se contra o actual estado das coisas e das injustiças de que é evidente vítima.

Há quem ainda ridicularize o Movimento dos Coletes Amarelos, mas nunca comprovou conseguir alternativa na elevação da voz de um Povo, em quarenta anos! Há quem tente ignorar, ou não tenha qualquer confiança nesta espontaneidade do Povo. Há quem manipule, sem vergonha alguma, da forma como sempre o fizeram os regimes comunistas, ditos amigos do povo, e tornados evidente maiores seus inimigos. Nunca existiram piores regimes em totalitarismo uso de violência contra os povos do que os dos países de regime comunista ou socialista. As maiores atrocidades e actos de violência e genocídio foram por esta gente praticados. Não lhes é nada difícil agora, activarem a violência militarizada contra um povo desarmado e pacífico.

Mas não é possível crer que um povo que um dia começa a despertar contra os seus maiores inimigos e abusadores dos seus parcos recursos, possa voltar ao sono perigoso da paz podre, da tal estabilidade social essa grande inimiga de mudanças que urgem fazer-se.

Os coletes vão provavelmente "incendiar" uma Europa de interesses instalados, onde a desigualdade cresce a cada dia, e a bem formada e informada classe média balança entre afundar-se na pobreza e o medo que a cada um e a todos os seus pode paralisar. 

Os coletes não precisam de cor, cansados de tantas cores que apodreceram a Política pela Europa e em Portugal em especial. Os Coletes, amarelos ou outros, precisam da confiança de todos, como provavelmente um dos últimos recursos antes que o actual poder se vista de legitimidade eleitoral e nos piore a vida a fronteiras ainda não vistas. Ninguém deve acreditar que numa Democracia (há dois mil e quinhentos anos inventada, e onde havia mais voz do povo do que na actualidade!) toda a expressão da vontade das pessoas se deve resumir a um dia e a um voto.

A libertação de uma Democracia que seja inimiga virulenta da corrupção (que a propósito não regrediu mas que avançou em Três anos, mais do que nos últimos 15...consultem-se instituições como a Transparência e Integridade), não dispõe de muito mais recursos e oportunidades. No dia em que a Oposição frouxa que temos deixar este poder ilegítimo legitimar-se num acto eleitoral para o qual esteve quatro anos a preparar mentiras e a estender os braços do polvo...os recursos deste ainda desgraçado povo ficarão mais limitados. 

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