A China actual (I)





Alain Peyrefitte: Quand la Chine s'éveillera... le monde tremblera, 1973.


A obra de Peyrefitte, um político gaulista pouco consensual, tido como envolvido, no fim da carreira, num escândalo que envolveu a morte misteriosa de Robert Boulin, também político e ministro na mesma época (anos 60), parece hoje ser actual. Mas, como o seu autor, é tudo menos consensual.


Hoje, logo pela manhã, recebi um dos habituais emails-newsletter do Banco Millenniumbcp, como sempre a misturar uma espécie de veia literária com análise económica. Na comunicação do BCP a China é um país em arrefecimento económico, e essa desacelaração é um dos problemas do actual regime ditatorial, disfarçado de regime aberto, mas não exageremos com os epítetos, pois o de 'Democrata' não lhes serve, não se encaixa. O regime, ou o governo, para continuar a resistir à pressão popular que quer a sua mudança e a ocidentalização do país, necessita de um crescimento económico sustentável ou rápido, mas continuado. Diz a newsletter do BCP, num tom entre o kitch piroso e o idiota, como é apanágio de um Banco 'Socialístico-socratiano', que o frio deste Inverno, que chegou à China, é seco ("Este ano, a chegada do Inverno na China pareceu anunciar a mudança de estação também da conjuntura macroeconómica, paraum clima mais frio e mais seco. ).


Sem me debruçar nas considerações económicas da letter do BCP, aliás correctas, como não podia deixar de ser, o interesse nestas informações sobre a China, aliás incorrecto, como não podia deixar de ser, vindo de um banco onde o Administrador incompetente, foi nomeado por um Primeiro ministro ainda mais incompetente, numa intolerável interferência do Estado numa Empresa privada, por acado a maior do sector financeiro privado, e onde se tem demonstrado como se pode e consegue gerir mal (acções a metade do preço de um café?!? Passar da melhor imagem na Banca, para a pior de todos os Bancos, esta análise, como dezenas de outras por todo o lado, esta Preocupação e Interesse pela China, é o que me espanta e preocupa.


A China é uma ameaça para o Ocidente, como se depreende do livro de Peyrefitte? O que se entende por ameaça? E porque a China? Um dos países onde o nível de vida e as condições gerais do povo, não roçam, mas atingem mesmo o mais sub-humano que se conhece? Um país onde a Vida tem o interesse que se sabe das meninas bebés abandonas nas ruas, ou deixadas ao abandono até à morte em lares piores do que canis? A China que anda a investir no Ocidente (onde a EDP foi um dos primeiros e significativos passos, apenas), porque não o faz dentro de portas, criando mais emprego e melhores condições aos do seu povo? A China que arrogantemente despreza todas as chamadas de atenção contra os direitos humanos, invadiu países fronteiriços e se mantém no poder por força das armas? A China que reprime todas a vozes que se levantem contra o Regime Comunista disfarçado, tão brutalmente como antes o fazia com o bandido Mao Tsé Tung? 


Porque esta preocupação com a China e a sua capacidade de investimento, vinda de um PIB imenso, mas de um miserável e bem inferior ao português PIB per Capita? Tudo pela necessidade de financiamento urgente das falidas economias europeias?


Não é estranho que em vez de cuidarmos de nós, sem o recurso único e absurdo, enquanto único, à Austeridade (as Reformas nos Estados e Administrações Públicas sim, serão fundamentais, desde que se façam...) mas ao invés, com aplicação de medidas de libertação de recursos, via Banca privada, e não interferência directa do Estado, para financiamento e re-investimento nas economias, se veja como solução principal para os problemas, de todos os Estados Membros da UE, a China?


É certo que a China tem esta capacidade. Como o é, que o seu povo morre de fome e é desprezado nos seus direitos. E como se comparam os PIB dos grandes países, com a China? E, sendo comparáveis, no PIB total, pois no PIB per Capita, não o são, já que o da China é bem mais baixo do que o de Portugal, porque não investem as economias dos países mais fortes e maiores, em países como Portugal, Espanha, Itália, etc?


(a continuar)



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