Estalo
A grande estalada começa no primeiro sopro. Ou vem com ele. E nunca mais pára. Vem-nos dia a dia em doses certas e subtilmente. Chega-nos de muitos e todos os lados, e apanha-nos no nosso melhor. Muitos de nós livram-se bem desse estalo incomensurável, e andam por aqui como se nada lhes tocasse. E não toca. Só atinge os infectados. Os infectados pela vida, pela vontade de fazer, de sentir e fazer sentir, de ter e de pertencer. Só atinge os incuráveis infectados, contagiados um dia e nunca mais certos pelo passo normal, diria sensato, dos ‘realistas’, dos ‘pragmáticos’, dos ‘normais’. Tresmalhados, alguns, somos os infectados pela sensibilidade, pela energia inesgotável, pela vontade de aperfeiçoamento, pela mania estúpida de ser diferente para ser melhor. Melhor por melhor, nada que tenha de entrar em comparações com esses cansativos e chatos dos realistas. Não. Apenas infectados, pela VIDA. Até morrer, que nada se relata mais a partir desse dia, do estalo último. Acreditamos na vida,...