Um adeus sem saudade

Deixou-nos à pressa, mas, no momento, até nos sentimos lisonjeados, ainda que um tanto órfãos, por passarmos a ter um "português na Europa". Sabíamos muito pouco das suas ideias, na altura, embora desconfiássemos do vazio. Chegámos a pensar que, uma vez num lugar de tal destaque, não sabíamos se de impacte real, talvez pudéssemos ver algum benefício da sua nova função.

Durão Barroso foi um desses políticos que passaram por diversas funções e, como a comida sem sal, ficamos sem saber se nos faz bem, se é mesmo essencial, ou se apenas é um desprazer para os sentidos. De cada vez que falava, a expectativa inicial se gorava, a sensação de peixe sem sal aumentava. Se perdêssemos uns minutos, preciosos para coisas verdadeiramente importantes, a reflectir no que dizia, e, mais, no que podia estar a fazer, a sensação de vazio era acentuada. Era uma reflexão sobre o mais normal, sem rasgo algum, dos políticos dos últimos anos. Uma mediocridade que se alcandorara a grandes voos, mas eram voos apenas de reconhecimento, sem qualquer acção.

Lendo Sousa Tavares, tive de concordar totalmente com a sua análise sobre Barroso. Nada fez, ou nada parece ter feito, com a excepção da reverência em que é mestre a um ou dois países, dominadores (maus e medíocres) da Europa. Serviu, talvez, bem a Alemanha e a França. Não serviu a Europa. Deixou-nos com o maior desemprego de sempre neste velho espaço que é a Europa. Os jovens, os mais afectados. Mas os mais velhos, sem qualquer regresso ao mundo do trabalho. A Europa da Crise tornou-se mais desigual, muito mais injusta e descontroladamente corrupta. Não apenas por cá, país que ama a corrupção e faz dela um modo de vida, onde políticos condenados se arrogam a discursos de pudor e de espanto pela sua situação. A mim, parece-me impossível que um criminoso não chegue a ter a noção do crime praticado. Mas virem os seus advogados, que logo perdem a legitimidade da seriedade, para sempre, defender gente menor e evidentemente corrupta, já condenada, falar em processos de intenção contra políticos...quando, afinal, muitos mais deviam ser investigados, porque se trata de nos lesar, a nós, que devíamos ser o centro, numa Democracia madura e saudável. Ora, este é um assunto também europeu. Gente desta foi recebida por outros tantos, já nem sabemos se sérios e íntegros, quando defenderam austeridade para alguns, sabendo-se hoje que ela, austeridade tem sido também um processo no intrincado sistema que a corrupção constrói.

Barroso esteve no centro de tudo isto. Impossível não saber. Impossível não saber que a Austeridade, com as cores preta, amarela e vermelha, são parte de um processo de interesses financeiros, que ligo directamente a redes de influências e alta corrupção. Basta atentar no valor percentual da dívida alemã e o da portuguesa, e na disparidade de juros a cobrar a uns e outros. Mas é muito mais complexo que isso. É fácil encontrar indícios deste esquema conspiratório, mas quase impossível provar. No final, surgem sempre uns senhores muito elegantes, e educados, a cobrar o que lhes é devido, e todos a acharmos isto, um processo normal. Pois, Barroso esteve por lá, bem no centro.

Durão Barroso, foi líder do meu Partido, onde ainda me encontro, por não ver algum mais próximo da social-democracia que defendo para desenvolver este desgraçado país que é o meu. Foi um líder sem ideias. Não lhe conheço uma. Foi em fuga para a Europa, ambicioso e vaidoso, sem mérito para tal. Mas não tem toda a culpa. Era político num país amorfo, onde as pessoas julgam participar na Democracia por um voto, de anos a anos. E depois...ficam a assistir. A assistir a tudo se desmentir e desiludir. Mas não intervêm. Chamam-nos estóicos e civilizados, eu chamo palermas e preguiçosos. Ineptos sociais, que nos deixamos levar um oceano entre duas costas agrestes: a mediocridade e a corrupção à luz do dia. Reverenciamos os "grandes". Adoramos faze-lo. E também o fizemos a Barroso. Fazemos a tudo que tem, no mínimo um título colado com cola fraca, na lapela de Director. Já é qualquer coisa, ou muita coisa, dependa da extensão da vénia a que estamos dispostos.

Durão Barroso foi um bom mordomo da Alemanha, cuja política direccionada para a Europa, vai matar esta mesma. Completamente. Não se constrói um espaço social, cultural e económico comum, provocando a pobreza de alguns, para permitir, como efeito directo e direccionado, a riqueza de outros. Não há espaço comum com várias chinas ou ásias dentro de uma Europa.

Que se fez pela política energética comum, tão fundamental e urgente, com a dependência europeia do exterior que é evidente? E pelas telecomunicações. Somos, europeus, a chacota mundial. Quando uma Coreia do Sul, só para dar um exemplo, define 2015 como o ano para introduzir a 5ª geração de serviço móvel, a Europa responde, dizendo que irá ser muito rápida que o fará...até 2020....e nem isso fará, pois nem a 4ª foi efectivamente implantada. Mas os europeus do centro, adoram dizer...dizer e nada fazer. Alemães...como os conheço! E como enganam tanta gente. Passam por ser muito evoluídos tecnologicamente...mas quem sabe das coisas, entende bem. Estão sempre, mas sempre, efectivamente sempre, atrás do Japão, dos EUA e, agora, em alguns aspectos, atrás da Rússia!

Pois Barroso andou de sorriso em sorriso, de discurso estúpido em discurso ridículo, a fazer vénias. Vénias portuguesas demais para o meu gosto. Claro que Passos Coelho é igual. Escola igual...

Adoramos reverenciar. Prestar "respeitos" aos doutores, aos "estrangeiros", a tudo o que parece ter bom aspecto. Cheguei a ouvir isto mesmo sobre dois políticos ridículos, medíocres mas perigosos para Portugal: Sócrates e Passos Coelho. Nada inocentes, como gostam de se apresentar, mas isso é outro tema...

Barroso é um bom fruto desta reverenciação portuguesa aos "fortes e poderosos". Nunca "os" teve no sítio. Apetece dizer que...já não há Homens na política. Mas uns idiotas de salamaleques, sem conteúdo algum.

Assim foi o último Presidente da Comissão Europeia. Dez anos perdidos. Mas dez anos ganhos para a Alemanha, a sua Finança e as suas empresas. Para mais ninguém. Ninguém. Até os finlandeses constatarão como foram enganados, iniciando como estão a sua própria crise. Claro que são crises diferentes, de povos "superiores", gente nobre, não embrutecida como nós. Ultrapassarão tudo com juros a metade dos nossos. E tudo o mais mais barato, energia, telecomunicações, etc. Por cá, a reverência continua, e nada se fez, como Barroso também, quanto a mudanças estruturais genuínas. A despesa do Estado diminuiu. De facto. Mas à custa de despesas de Investimento. O resto da redução corresponde a 0,3% do PIB. As de investimento, a mais de 6%. Significa que, quando vier o PS, e infelizmente, e graças ao trabalho do Governo de Passos, desta estúpida austeridade, destas políticas de burros e de tanta mentira, o PS virá...e quando vier, sobe as despesas de investimento, e como as outras não reduziram de forma estrutural e mais ou menos definitiva...nova desgraça nos visitará. O PS não sabe governar sem ser assim, com demagogia e para votos. Apenas assim. Governa com a propaganda. Nada de conteúdo efectivo ou de mudança sólida para o desenvolvimento. Durante o Governo de Sócrates, recebemos a maior fatia de verbas europeias de sempre e nada crescemos. Nada!

Ora, o cessante Presidente Barroso, vaidoso no seu sorriso bonacheirão, esteve no centro de tudo isto e muito murro na mesa podia ter dado, para mudar tanto disto: da corrupção às políticas comuns sobre energia, sobre telecomunicações (pois...mas são mercados que a Alemanha não domina, nada percebe...), sobre Emprego, sobre criação de riqueza na Europa, crescimento económico num espaço a definhar, (pela ordem inversa, economia e emprego, claro), sobre equilíbrio e justiça fiscal, sobre diminuição de desigualdades. Nada.

Barroso é ...nada.
Adeus!

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