Três momentos, de um só Momento

1. Um momento diferente, quando o tempo refresca, nestes dias curtos, em que o Sol começa a ser pouco demais para equilibrar ... São tantos os caminhos que visualizo ter percorrido, outros mais que gostaria de ter iniciado. Definitivamente, detesto a nostalgia, gosto de um Outono que comece num aconchego do pôr-do-sol dos românticos, leve, sem peso imaterial, um calor interior que vem da certeza de Invernos pouco sentidos, ainda que o ar fresco, ou gelado desperte para outras experiências, uma perspectiva, enfim, de bons anúncios desse livro do Futuro, onde dizem termos algures o nosso nome. E que consigamos sempre lê-lo, ao lado de nomes nossos queridos. Gosto da ideia da formiga, da inteligência que conseguimos por nos dias, se ela nos servir para uma partilha com outras mais, caso em que todo o sentido de uma vida se preenche. Caso não, não... O Verão tem gente, multidões, cor, luz, animação. O tempo frio recolhe-nos, e desconfio não ser apreciador. O momento destes dias frescos aborrece. Daria um grande salto já hoje, para uma nova Primavera, não deixaria para trás quem a viagem comigo quisesse fazer, mas tenho bagagem limitada. Vivi momentos inesperados, fortes e memoráveis, que quero voem comigo no salto pelo tempo. E outros, que espero hibernem para sempre, com o frio inexorável que se avizinha. Mesmo que a minha Primavera chegue antes da Primavera, cá estou. Mesmo que não, espero estar. Espero. Guardo bem cá dentro com o meu calor afectado, o que me tocou. Espero. Que o tempo fresco ou frio, o seja aquecido pelo que me foi oferecido. De onde veio, não sei. Mas que não vá. Quando, como, com quem, onde...são só perguntas, e apenas as respostas contam. Venha, então, esse Outono! Estou por cá.

2. Bom dia Vida! Sabes...? Há dias em que me apetece ser eu mesmo. Não irei acordar outonalmente. Sei o que quero, há muito que o sei. Como, sei-o há menos tempo. E ainda há que saber onde e quem me leva na viagem que recusa sombras e tempestades. Conheço a ideia dos desígnios, e dos livros do Destino. Mas não me apetece. Quero escrever lá as minhas ideias, mas não o irei fazer a sós. Falta talvez conhecer a outra letra, ou não. Quero estar atarefado, quero, como sempre uma partillha. E partilha em liberdade. Por muito céu nublado, até dele irei escarnecer. Tenho o meu desígnio, e com alguém o cumprirei. Já será mais rico, porque não meu apenas. Deixarei espaços em branco, sorrindo a quem os preencher. Não entram outonos ou invernos. A chuva lá fora regará o que em mim guardo e no meu futuro crescerá. Chuva alegre, nuvens, a sua nascente. Apenas. Por isso, Vida, prepara-te, que te irei...dar luta e escarnecer. Aí vou eu. E não sozinho. Todos os espaços entre as minhas palavras esperam ser alimentados, por uma letra bela, que até sei de onde vem. Uma letra com música e luz especiais, que até já acho conhecer e não vêm de mim apenas. Faremos do Tempo, um mero observador. De um Tempo novo, já iniciado.

3. "A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte. 
O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons de duma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas. Talvez o poeta cujos versos nos encantam tenha sido um triste solitário, e o músico um sonhador melancólico: isso não impede que as suas obras participem da serenidade dos deuses e das estrelas. O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu medo, é uma gota de luz pura, de eterna serenidade. Mesmo quando povos inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas cósmicas em mitos, cosmogonias, religiões, o último e supremo termo que poderão atingir é essa serenidade."
Hermann Hesse, in 'O Jogo das Contas de Vidro'

Com a idade, a serenidade carrega consigo até nós, um Bem esplêndido e admirável, que comove os espaços à nossa volta, sejam vazios ou acompanhados de quem nos quer: a Sabedoria. O mais transcendente dos nossos dons. É esta verdade, criada, alimentada e afectuosamente acarinhada, todo o tempo, que nos fez crescer e nos dá dignidade e granjeia respeito. Mas o respeito vale pouco, se não se associa a algum tipo de amor. Crescemos para isto, e tão só isto: aprendermos a ver melhor, a não rejeitar o melhor, e só com a Serena análise e a Sabedoria do amor, podemos mesmo entender o nosso crescimento. E merecermos o de outros. Toda a vida temos de recear uma rotina mental, mas antes sabermos serenamente posicionarmos para aceitar a serena inteligência dos que amamos. Sem a Serenidade e uma Sabedoria escrutinada, não iremos ser Tolerantes. E é daqui que vem saber esperar e outra atitude, que necessita de interiorização superior, o saber perdoar. Mas não nos deixarmos magoar de novo. Depois, um dia, acontece mesmo o que já o devia. E tudo é em luz serena. Da serenidade e da sabedoria chega-nos o amor. Da paixão, talvez, ou talvez...a incerteza. Para ganharmos serenidade, há que passar por tempestade, provavelmente, digo...o caminho da paixão ao amor. Do desconhecido à Sabedoria, bem maior.


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