Vem aí um cataclismo europeu?

Lendo Adriano Moreira, qualquer de nós se deve inspirar. Haverá ainda muito quem tenha anticorpos, artificiais, apenas isso. À laia de clubismo cego. Detesto esse clubismo, que é porque sim, sem razão ou motivo, sem justificação. Para mim, fazer parte de alguma coisa, tem uma base qualquer, uma razão, um motivo, um objectivo até, se for o caso. que nunca será aquilo a que se assiste com as opções no futebol. "Porque és do Benfica?... Porque é o melhor". Ou do Porto, ou do Sporting, etc. E do PS, ou PSD, etc...Mas reconheço na política muito mais opção e pensamento, do que no futebol.

Diza um dia destes, em provocação, um tanto divertido, ao meu filho (três filhos, três opções por clubes de futebol...) que todos os clubes são exactamente iguais. A mesma coisa é escolher uns jeans, ou outros. Servem o mesmo fim, e, afinal, são iguais. É este 'espírito' de clube, que também há muito na política e me provoca urticária. Mas respeito quem o tem, não tenho é muita capacidade de ouvir gente cega pelo seu líder e pelo que ele diz, apenas porque é o líder, ou chefe, do seu Partido. Isso nunca! Nesses momentos, relembro Hitler e a sua eleição democrática. Podem estar neste momento outros no Poder em algum país insuspeito...

Adriano Moreira chama a atenção a riscos e perigos talvez iminentes, na cena política internacional e nacional. O perigo de uma Alemanha, que, de cada vez que experimenta a liderança hegemónica da Europa, nos conduz a um conflito devastador. Mas há ainda um problema maior, de fundo, para o que alertei tantas vezes, exposto por outro grande senhor da cultura: Jacques Barzun. A perda de uma identidade europeia, ou seja o desvanecimento da Civilização que conhecemos. Parece impossível, e já está a acontecer. Bastou muito pouco. Uns quantos políticos sem coluna vertebral, usando o seu poder para servirem interesses empresariais inescrupulosos, destruindo a meio caminho o que alguns outros grandes homens lançaram como semente, alargadas zonas de intervenção do Estado, onde as populações cadenciadas mais necessitavam. A regra de Merkel (apenas uma, há muitos mais e piores, se bem que menos mediáticos): do zero, faça quem quiser, a sua independência pessoal, o seu negócio empreendedor, numa espécie de lançamento às cegas nos mercados que tudo são menos perfeitos ou justos. Esse neo-liberalismo. E, como diz Adriano Moreira, pior se for repressivo, como o temos por cá agora.

Uma Europa onde se deixou de olhar a um equilíbrio social, dentro de cada país e em toda ela como conjunto, mas antes se procura usar o desequilíbrio contra os mais pobres, está a suicidar-se a uma velocidade estonteante. Mas não podemos esperar de uma Alemanha sem líder que pense, que possa ter alguma visão deste processo. Muito menos todos os que por cá e por ali andámos a desperdiçar tempo e recursos com políticas eleitoralistas sem fundamento. Para defesa do estatuto de algum líder narcisista que julga pensar por todos nós, e convence muitos e a si mesmo que é a derradeira opção de todo um país, usando assim de políticas erradas, também elas ao serviço de interesses financeiros sem princípios. Mas líderes desses, um pouco por toda a Europa, tornaram tudo isto num caos, criando mais desigualdade, mais injustiça social, quando falavam de a criar, e muita miséria.

Foi a visão curta de quase todos os líderes dos últimos anos na Europa, com a condescendência popular, e muito clubismo político cego que nos trouxe até onde estamos e nos agarra a este estado, de onde não sabemos como sair. Foi mais. Foi mesmo a intenção provocada de interesses empresariais, financeiros e não só, na conjunção com esses políticos que adquiriram por uns quantos milhões, que nos conduziram a isto. E nisto continuamos.

Este movimento, não sei se neo-liberal, ou outra forma, mas com o mesmo resultado, estancou processos em curso na Europa e em Portugal, que não podiam ter parado. A procura de ideologia e ideias novas, para um mundo que mudou, dentro das organizações partidárias e sociais, não foi o menos. A senda de um equilíbrio social, chame-se-lhe social-democracia, ou qualquer outra forma, com contornos defensores de valores idênticos, também não é menor. O processo lento e fundamental da culturização, da educação para o conhecimento, dos povos europeus mais desprotegidos neste âmbito do saber e do prazer pelo pensar. Então sim, o espírito crítico europeu (e português) seria outro, dando como consequência, novos e melhores políticos e empresários, conscientes de nunca deixarem desbaratar este capital rico na senda do esbatimento da desigualdade, e na senda da melhoria das condições de vida dos povos.

A crise transfigura-se pouco a pouco numa ou em várias outras. A crise das moedas, parece estar a chegar. A crise social não morreu. A crise política seguir-se-á. Com ela pode vir uma outra Grande Guerra...numa Europa onde os extremismos e populismo ameaçam tudo o que não foi construído, mas agiganta o que foi destruído.

Ou a Europa entende que o caminho para Estado Social não devia ter sido travado, e que, bem mais importante e urgente, há que conseguir equilibrar, leve o tempo que levar, países dentro do mesmo espaço político e económico, para um poder de compra mais próximo, menos desigual, para uma justiça social mais coesa, ou podem estes lideres compenetrar-se de que a destruição nem ainda começou, ou começou e não irá parar.

Perde a Europa a sua influência cultural e o respeito civilizacional que granjeou, mas pior ficam milhões de europeus à espera da miséria e morte. Todos os dias.

Comentários

Maria Eu disse…
O pior mesmo é que, qaundo chega a hora de votar, a memória é muito curta.
Também, os que se orgulham da sua "independência" política, não percebem quantas vezes vão sendo manipulados...
Triste, esta Europa que é tão desigual!
Pois Maria. É bem verdade. Mas as Democracias não podem viver apenas do voto. Já está tudo testado, está à viata que não é suficiente participação.

Mensagens populares deste blogue

Millennium de Stieg Larson: Os homens que odeiam as mulheres

A memória cada vez mais triste do 25 de Abril