"O Preço da Desigualdade"

Já não vou estrear este tema, nem é a primeira vez que refiro um livro essencial para todos. Todos, pelo menos que possam ler sem se cansarem sobre temas sociais e económicos. Mas seria bom que qualquer pessoa o lesse. É importante demais, para compreendermos o grave erro que tem sido a política de austeridade imposta pelo FMI, BCE, UE e Alemanha. Um erro com profundas e extremamente graves consequências. 

Antes de continuar, o que gostaria mesmo que alguém...pensasse, por dois minutos é, se acham que já basta de depressão familiar e social, a que acham que se devem muitos desmembramentos de famílias, e até de amizades? Se iremos continuar a por culpas na nossa vontade de querermos uma casa, um telemóvel e um automóvel. E se esse tal 'consumismo' que tão facilmente se condena em privado, é natural e justo para os centro-europeus e lamentável para nós portugueses, espanhóis, gregos, apenas por sermos...sul-europeus. Se...os países mais antigos do mundo merecem assim ser tratados por uma Alemanha (sim, país a quem atribui a culpa máxima do nosso empobrecimento crescente que ainda será mais profundo. Sim, será!) de gente que há quinhentos anos nem sabiam o seu lugar no mapa mundial. E que hoje, nem sabem o que é um sentimento sentido!

Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da Economia de 2001, in "O preço da desigualdade":

"(...) Embora os problemas da zona euro se tenham primeiro revelado na Grécia, outros países como a Irlanda, Portugal, Espanha, Chipre e Itália não demoraram muito a juntarem-se à lista de países em dificuldades. A extensão da lista devia tornar claro que não se tratava de uma questão de um país estar "no mau caminho". Havia algo de sistematicamente errado. Mas o diagnostico dos líderes europeus era fundamentalmente defeituoso, as receitas seguidas estavam mal pensadas, e ainda vieram a agravar mais a situação (...)"

"(...) O diagnóstico dos líderes europeus ficava-se no desregramento fiscal - ignorando o facto de que dois dos países em crise, Espanha e Irlanda, andavam a apresentar excedentes antes da crise. A recessão provocou os défices, e não o contrário. Mas a receita seguida após o diagnóstico de desregramento fiscal foi a austeridade - que importa que praticamente não haja exemplos de países que tenham recuperado de uma crise através da austeridade?(...)"

O desregramento fiscal a que se refer Stiglitz é o de impostos baixos, segundo a Alemanha, líder da nossa imposta austeridade. Impostos demasiado baixos, segundo eles! Acreditam?! Pois...

"(...) O resultado foi o esperado (nem por todos, como os 'sábios' económicos portugueses...que ainda hoje defendem esta austeridade, que continuará...mesmo com PS a governar!): os países que seguiram a austeridade - seja voluntariamente, como no caso do Reino Unido, ou involuntariamente, como no caso dos outros países da zona euro - entraram em recensões mais profundas e, à medida que estas se aprofundavam, as melhorias esperadas na posição fiscal foram decepcionantes.(...)"

Ora...qual o espanto? Impostos cada vez mais insuportável > retracção mais profunda do consumo > menos colecta > mais impostos, mais altos > menos consumo > mais empresas a falir > menos colecta de imposta.... 

Um Governo liderado por meninos, uma Oposição de meninos, seguidos por gente que adora esbanjar... qual o futuro? 

Nenhum futuro. Um louco, diria que o alívio acentuado a carga fiscal seria um primeiro passo para recuperação económica, ainda assim com uma perda irrecuperável de uma larga franja de pessoas, para sempre fora do mercado de trabalho, logo, para sempre fora do mercado interno. 

O que a Europa, a Alemanha, os principais Bancos, os líderes partidários principais, no Governo ou nas Oposições (nos vários países europeus!) fizeram foi caminhar no sentido de uma destruição europeia em massa, provavelmente muito difícil de reverter. Provavelmente, ou seguramente. 

Agora leiam isto, com toda a atenção:

"(...) Os banqueiros, e os líderes políticos que pareciam tê-los servido tão bem (neste momento a voltarem-se uns contra outros, como observamos por cá, com BPN, BPP, BANIF, BCP, BES...e lá foram com tantos bancos de dimensão mundial! No que ainda será mais grave, e mais se voltará contra os povos, que terão de pagar, pelos impostos, os enormes buracos que banqueiros fantásticos e rigorosos, do alto do seu profundo saber e da sua insuportável arrogância...provocaram, nos seus próprios Bancos, que são nossos, afinal ao termos de tapar as suas dívidas!), perceberam como criar um sistema financeiro que podia envolver-se em tomadas de risco, manipulações de mercado e práticas predatórias. Mas tinham muito menos noção de como criar um sistema que realmente fizesse o que devia.(...)

Este livro é sobre a desigualdade. Não sobre a austeridade em sim. Mas esta desigualdade foi agravada, extremamente agravada, pela austeridade. É o que demonstra Stiglitz. Outros autores fazem-no, também com a mesma consistência e conhecimento. 



Não se trata de seguir cegamente este ou aquele economista, mas de entender com mente aberta, sem prisões a clubinhos partidários, ou cegueiras orientadas por um mero interesse pessoal, que tudo o que se explica é hiper real, lógico e, sobretudo, confirmável. Todas as semanas temos confirmação do criminoso erro desta austeridade, como o tinha sido criminosa a política de governos como o de Sócrates, de Zapatero, de Blair, de Sarkozy, Berlusconi, Papadreou, pelo lado do esbanjamento injustificado e do populismo rasteiro (redes e estradas inúteis, obras megalómanas e o crime sempre por julgar: a corrupção patrocinada por esses governantes. Nada que tivesse melhorado com os actuais governantes, nos diversos países europeus).

Todas as semanas se confirma o erro que continua, numa austeridade que cria desemprego e miséria, e também se confirma a tentativa de um assalto ao poder de outros igualmente medíocres, que nada de bom nos auguram. 





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