"It was the happiest moment of my life, though I didn't know it"

Há referências, lidas, que por vezes me escapam. Em tempos, há uns anitos, li um livro fantástico, sobre o tempo, a análise do tempo, numa perspectiva psicológica, The Time Paradox, Philip Zimbardo. Acho até que nem o terminei na altura. Não acho...é o diacho do livro, nesta fase conturbada em que os meus livros se debatem por um lugar nas estantes, ou pelo seu lugar legítimo, e não com uma vizinhança 'estantística' indesejada. Se me tivessem visto a (des) arrumar os livros nesta minha última mudança de casa, logo lhes dariam razão, aos meus livros, na devida proporção em que se atirariam a mim clamando por uma melhor justiça na atribuição de espaços...enfim. O coitado que hoje queria relembrar e talvez reconduzir ao seu justo jazigo não quer dar sinal de vida, nesta caótica vertical acomodação. Mas posso fazer o esforço de memória, que outras memórias hoje vividas, (ou vivências memorizadas?) me permitem.


Orhan Pamuk, um dos meus muito apreciados Mestres das letras, Turcas da Turquia (não da toalha), dizia o que ali em cima apus, num dos mais belos livros de amor e de nostalgia dolorosa que li: It was the happiest moment of my life, though I didn't know it (Pamuk, The Museum of Innocence) , referência a um grande amor vivido anos antes, alguns bons anos antes, algum bom amor antes... com uma jovem, com diferença muito significativa de idade, pelo protagonista do romance. Há passagens que parece sentirmos a dor daquele homem... a dor de um amor afinal não realizado. E as não realizações...a mim...

Bem. The Time Paradox ensinou-me uma coisa. Que não há propriamente (quer dizer, haver há...) vida tramada, vida difícil, a vida é dura, etc...Mas que o tempo é que é lixadinho da breca. Sujeito difícil e muito relutante. Tão relutante que nunca (mesmo) volta atrás, com o que já feito foi, e o que nunca feito foi e devia tê-lo sido, talvez.

Repasso uma ou duas passagens que transcrevi na altura, do Zimbardo, pérolas...

"Those who compare the age in which their lot has fallen with a golden age which exists only in imagination, may talk of degeneracy and decay; but no man who is correctly informed as to the past, will be disposed to take a morose or desponding view of the present".

"As we look further into the future, we are forced to do more in th present. Cell phones ring incessantly; emails pile up in pour in-boxes; Tv shows, movies, and books all cry for our attention. Many people in modern societies report feeling a time crunch, a sense of being continually hurried and pressed for time".

Mas as análises sobre esta 'urgência do tempo', ou sobre a importância de acontecimentos marcantes nas nossas vidas, que num momento são os Mais Importantes, e noutro são relativamente, apenas...Fica sempre por fazer. A análise cientificamente rigorosa, talvez só se possa fazer no leito de morte, ou quando nos recusamos, precisamente, a avançar na nossa vida, preferindo forçar a 'paragem' do tempo, em detrimento de agarrar com coragem o momento seguinte. Ele, há-o sempre, não se duvide. O que ele traz, é que é surpresa. Surpresa, sim, mas pode ser apenas uma coisa boa, que é o desejado, ou a pior de todas. Mas surpresa, no sentido de nunca vivida antes (pois...).

Os chineses dizem, há uns quantos milénios (mas tudo são milénios naquela terra, excepto a fábrica que monta os Apple...): a água que passa no rio num dado momento é a primeira da que vai passar, mas a última da que passou. Esta parece-me dar mais sentido real à urgência que o Tempo coloca nas nossas vidas. Hoje...falei, ou ouvi falar de Tempo, por...algum tempo e adorei o tempo em que ouvi. Era tempo ou já havia passado assim que se deu por ele? Não sabemos. Nunca se sabe. Esse o grande mistério desta variável constante e constantemente em urgência, nas nossas vidas.

Mas...aos menos crentes, deixo de novo a frase de Pamuk, digna de alguma reflexão. Temos todos a noção da necessidade de aproveitar o melhor possível o Tempo, deixado ao nosso dispor, mas nem sempre o fazemos e todos, acho, nos queixamos disso. No que o Tempo é...inexorável e implacável!

Leiam-na com tempo...mas não tardem muito a compreendê-la. Ao terminarem...já passou (ou não).

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