O Poder e o mau exercício dele



Quanto mais aprendo na vida mais me convenço da máxima que diz que ser Chefe não é o mesmo que ser Líder. E que o Poder não é 'para todos'. No sentido em que nem todos o sabem usar, ou deviam. Mas as coisas não são, obviamente, como deviam, como sabemos.

Exercer Poder é exercer uma influência decisiva, limitadora, condicionadora, ou não, manipuladora no bom sentido, ou no mau, quanto baste, ou mais do que basta, sobre outra ou outras pessoas. Ter ascendente sobre uma pessoa é ter algum poder sobre ela. Ser respeitado por alguém é ser, de certa forma, reconhecido, nesse poder que se exerce. Manipular é muitas vezes usado em sentido negativo, perverso. Mas a manipulação, com intentos e objectivos não constrangedores, e sem pretender mudar os outros, não é forçosamente uma má atitude, ou nem sempre o é. Tudo isto usamos nós, alguma vez, em alguma circunstância, com alguém.

Mas o exercício do Poder que se tem, sobre uma pessoa ou sobre um grupo, para que seja reconhecido como uma qualidade de um Líder e não de um 'chefe', no sentido mais redutor do termo, é algo que nem todos temos, nem todos o sabemos usar, na maioria das circunstâncias. Para que se use de Poder, sem esmagar ou anular alguém, sem lhe retirar direitos ou sem lhe tirar o sentido que encontra nas coisas, sem que se sinta substituído no seu exercício discricionário, de livre arbítrio, da Liberdade a que tem direito, é fundamental que se comece por respeitar o destinatário do nosso exercício.

O respeito quando não vem da admiração pura, tout-court, por aquilo que o outro é, ou fez, vem de uma coisa bem mais básica, porque fundamental: do amor. Desse amor que temos pelo companheiro ou companheira, marido ou mulher, filhos e filhas, pais, irmãos...ou por amigos que nos dão mais sentido à vida e a preenchem e dão cor. Mas amor também pode ser social, como alguns líderes espirituais e até sociólogos e psicólogos (Goleman, Gardner, entre outros) o explicaram. Esse é o amor por uma sociedade, por uma cultura, por um povo e por um país. E também existe, mesmo em tempos de desencanto e descrença como este em que nos encontramos.

O respeito devemos a toda a gente. Ou devia ser assim, pelo menos numa sociedade utópica, que é algo que nos faz bem seguir, mesmo sendo inatingível. Outras ideias utópicas já serão bem mais perigosas, mas esta não, como princípio. O respeito também devemos recebe-lo de muita gente, ou devia ser de todos. Mas esse respeito, quando levado a admiração, quando a alguém que seguimos, que reconhecemos como Líder, leva-nos a reconhecer-lhe e a outorgar-lhe, até, um Poder sobre nós, que não nos lesa, ou não o deve.

Quando o Poder, por outro lado é exercido apenas porque sim. Apenas porque se tem os meios para tal, porque temos a posição para o exercer, como Chefes num serviço, numa empresa, numa família, como pai ou mãe, mas é desprovido do reconhecimento necessário que leva alguém a consultar-nos, a esperar para nos ouvir, a seguir-nos é vazio e é Um Vazio. Mas é bem pior, uma Perversidade e um Perigo.

E o Poder assim exercido, seja em que ambiente for, mas tanto pior se houver intimidade, como numa família, é bem mais pernicioso, é um autêntico perigo é uma Bomba. Cria desequilíbrios insanáveis. Deteriora relações e conduz ao desrespeito, quando devia levar ao Respeito e Consideração.

Quem julga ter poder, deve exerce-lo o como se de um conselheiro se tratasse, como se se encontrasse numa assembleia política, como se fosse, se não é, um democrata. Não tem deixar de o exercer, apenas por se comportar com cortesia, complacência até, com atitude de ouvinte e de conselheiro. Após uma consulta a todos, um político pode e deve decidir. Assim também, se o ideal é possível, numa empresa, onde nem sempre o é. E com maioria de razão em casa, com a família, onde os laços de proximidade tendem a criar tensões e rejeições, ou, pelo contrário, subserviências nada saudáveis. Como pai ou como mãe, o nosso cuidado no exercício do nosso poder deve ser acrescido e não diminuído, por comparação com outras circunstâncias.

O nosso poder como pais, molda e determina comportamentos subsequentes. O nosso poder é bem mais facilmente aceite pelo exemplo, um poder, aliás de uma força imensa. O nosso poder como pais, a propósito de alguém que neste momento o exerce de forma extemporânea e absolutista, de forma implacável e irresponsável, é condicionante e extremamente perigoso, se não bem exercido. Mas temos, em tais circunstâncias um poder imenso, com frequência, o do Amor. E que se perde, por vezes, indeterminada e irremediavelmente pela sede de Poder gratuito e cego, pela autoridade sem liderança, pelo orgulho idiota e infantil, pela forma como quando o exercemos assim, se afastam de nós os que de nós precisam. Quando os devíamos ter mais próximos...em momentos delicados e de grande tensão. Em momentos, nem sempre identificáveis, extremamente decisivos!

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