Porque somos...como somos?


Cada dia leio, oiço ou tomo conhecimento de mais e mais portugueses que não entendem como chegou o nosso país à actual situação. E muitos de nós também têm amigos, família e conhecidos que se interrogam, não entendem ou discutem, na procura de respostas que não se conseguem, com uma simples análise de conjuntura actual, obter.

Muitas das análises feitas serão válidas e todas terão o seu mérito e valor.

Teremos um problema congénito, de código genético da ‘raça’? Estaremos condenados a sermos, no futuro, já que no passado nem sempre o fomos, uma pais de comparações desfavoráveis, de menos qualidade, de uma qualquer condenação perpétua para a mediocridade? Seremos sempre o que actualmente somos, quase sempre do pior que se ‘produz’ na Europa, apesar de uns quantos optimismos pueris, desprovidos de qualquer realismo concretizável e tangível, estilo José de Sousa?

Se hoje perguntarmos na rua à primeira pessoa que virmos, sobre o que somos, e sobre o que poderemos ser, muito provavelmente, ouviremos que somos tão bons ou melhores do que os outros (leia-se, os outros europeus), mas depois não se sabe explicar porque somos mais pobre, mais incultos, menos informados, menos qualificados, menos sérios (honestos...lembremo-nos do que dizemos de nós mesmos, quando referimos o que faz um suíço ou alemão quando retira um jornal de uma dessas caixas sem vendedor e sem vigilância, onde estão os jornais nas ruas, desses países, e o que faria um português, só para dar m insignificante mas muito significativo exemplo da ‘nobre alma lusa’ e da auto-estima como povo...). Mas se fosse possível perguntar-se, para se obterem respostas valoráveis, sobre o que é prioritário para Portugal neste momento, as respostas não surpreenderiam quase ninguém, porque rondam os temas com que nos massacram todos os dias: o problema da justiça, o problema do emprego...

E, no entanto, os problemas da Justiça e do Emprego, que directamente nos afectam, realmente e são estruturais ( o desemprego não é já conjuntural como nos quer fazer crer este governo de incompetentes de mediana inteligência, posto que a estrutura económica ou produtiva nacional não reencontrará o caminho do progresso e crescimento, mais ou menos sustentado e consistente, mas antes passará por períodos de crescimento mais ou menos breves, alternados por outros de estagnação, porque simplesmente, sem a descoberta de um produto nacional identificável, uma tecnologia genuinamente portuguesa, e de sucesso comercial global, tipo ‘Nokia’, ‘Apple’, ‘Toyota’, aço, química, pesca ou agricultura de ponta e elevada rentabilidade, seremos sempre um país seguidor de líderes, imitador e copiador, um segundo, terceiro ou enésimo pais num contexto geral de países produtores...

Para mim tenho que uma das respostas aos nosso problemas passam, de novo, por uma análise histórica, e por uma desprendida, descomprometida e assaz livre tirada de conclusões, sem os preconceito pseudo-ideológicos que ainda hoje nos caracterizam.

Primeiro: a Espanha terá sido ou é benéfica a Portugal, ou antes uma influência perniciosa e negativa? Para mim, é altamente negativa e prejudicial. Tudo é ‘um mar de rosas’ no momento de uma negociação de um novo negocio com ‘nuestros hermanos’, mas rapidamente nos damos conta dos intentos imperialistas, da mania da liderança, tantas vezes incompetente, dos espanhóis, dos benefícios a pender para o lado de lá da fronteira, do desemprego que nos deixam como prémio e agradecimento...

Segundo: que se aprende com a História, dos diversos tipos de Regime que tivemos e temos? Monarquia, República (Primeira), Salazarismo e República Democrática após 1974? Que têm de comum e que diferencia estes distintos Regimes políticos, económicos e sociais? E culturais. Um aspecto é comum a todas as épocas na nossa história. E ela não é bem o problema da Justiça, ou da Economia por si mesmas. Mas o nível cultural, informativo e a atitude critica e participativa do nosso povo: os piores, sempre, na Europa. O que nos distancia claramente de nórdicos ou europeus centrais e mesmo de França ou Itália (já não digo Espanha que é bem semelhante).

Um como José de Sousa, o famigerado Sócrates das nossas vergonhas, será possível que surja numa Noruega, numa Finlândia, Dinamarca, Alemanha, Áustria, ou mesmo República Checa? Não só n-ao me parece, como estou certo de que não. Nesses países, um homem tantas vezes suspeito de mentir, de actos de corrupção, de falsas reformas, nunca prosseguidas, ou nem reformas genuínas, de efectivo domínio da economia através dos seus agentes mais influentes (Millennium Bcp, PT, BES, CGD, EDP, GALP, RTP, TVi, Brisa, Gás de Portugal, Universidades várias, Entidades (inúteis duplicações despesistas do socialismo português) Reguladoras (como se os Ministérios fossem coisa diversa...), Fundações, etc. De controlo da informação e do conhecimento das actividades da nossa Administração politica e pública, através da manipulação da Comunicação Social, das entidades responsáveis pelas estatísticas, de controlo, afinal da sociedade portuguesa e da nossa vida comum em geral...

Um homem assim, nunca poderia permanecer no poder após as primeiras suspeitas, ainda que nunca confirmadas, dos seus actos ilícitos e das suas actividades e tendências totalitaristas e anti-democráticas. E que sucede por cá? Vamo-nos ausentando da participação politica, vamo-nos deixando estar no nosso cómodo mas atroz e condenável, conformismo, como se ainda estivéssemos sob a alçada de uma Igreja Católica em pleno século XV ou XVI. Como se alguém, um Presidente receoso de convulsões sociais e avesso a comportamentos irreverentes de um ou mais movimentos sociais, nos pudesse indicar o caminho e apontar a direcção.

Estamos há demasiados séculos descontextualizados do andamento do Mundo.

Estamos há demasiados séculos, alheados do andamento da locomotiva do conhecimento e do domínio das tecnologias. Estamos, muito serenos, passivos e assustadoramente tranquilos, na nossa (atroz) ignorância colectiva.

Nunca como agora fez tanto sentido a frase, atribuída a Salazar de que ‘cada povo tem o Governo que merece’. Mau, muito mau, neste caso.

O secular medo da discussão de ideias é o caminho mais seguro para os abusos de poder e o Maios risco de novas politicas totalitárias.

A ancestral simpatia por políticos dominadores, é o mais efectivo e prometedor testamento da nossa decadência.

Ou mudamos...ou condenamo-nos. Colectivamente, como povo triste que “não sabe, nem sonha, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança, como bola colorida entre as mãos de uma criança”.
Já não sonhamos... Mas em tempos, fomos dos que mais sonharam e deram razão aos seus sonhos e anseios. A História é passado, mas é lição também.
Porque somos como somos? Não me parece que ser optimista 'inveterado', irrealista, com base em sonhos, que mais tarde serão pesadelos (TGV's...do nosso Primeiro...crescimentos económicos falsos, défices do Estado fabricados, estatísticas da criminalidade reconstruídas, sucessos empresariais com pés de barro... progresso nacional existente nos sonho de quem dorme lá para os lados do 'Héron Castilho', ou São Bento...um país que só um homem, uma 'criatura irreal' consegue ver ou imaginar... ) seja uma forma de encontrar o início de nova caminhada de progresso. 
Parece-me que a análise livre e descomplexada da nossa (triste) realidade é o melhor processo. Que as soluções dos nossos seculares problemas virão da libertação dos nossos complexos políticos e sociais. Da libertação generalizada deste povo, em relação a este modus vivendi de apatia e de medo da discussão e até da agitação social, se necessária. Depende o nosso futuro, a meu ver, mais ... de uma certa revolução interna nas nossas cabeças dormentes, do corte das amarras deste nosso conservador medo generalizado e a assumpção dos nossos piores temores, a par da realização das nossas efectivas capacidades.


Comentários

Anónimo disse…
Há, nos portugueses, uma tendência para dizer mal de si próprios que vem de há muitos séculos. Nunca, como hoje, houve tantos "opinion makers" a dizer mal do país e... fazem escola. Até ouvimos meninos de treze anos dizer que este país é uma mer...Sócrates tem as costas largas e despoletou o ódio dos nossos homens da informação. Que venha S. Passos salvar-nos...
Ou há razões para tal? Ou...o país mais antigo da Europa não pode, legitimamente, olhar para si mesmo e ficar atónito por tamanha desgraça, pobreza, e, sobretudo, ignorância? E se há cada vez mais opinion makers...será tal negativo? E eu a pensar que a 'Democracia era o governo do povo'. Será melhor não haver opinion makers? Ou haver menos? Ou, ao contrário, haver muitos, mas muitos mais, e, preferencialmente, informados. Sócrates...é uma carta fora do baralho, um testa de ferro ridículo, sem formação, sem educação, sem ideias, sem princípios e, o que é mais grave...sem honestidade. Foi, enquanto durou, um 'menino' instrumental do PS...como sabe...
Um país com mais de 860 anos, mesmo triste, como tem sido, não pode, apesar de tudo dar o mínimo de valor a essa 'criatura' totalmente insignificante, e atrozmente menor.

Agradeço o seu comentário, apesar de não parecer. O futuro...dir-nos-á do resto...e ele já aí vem. A Passo(s), mas vem.
E...como me parece (há nos portugueses, denota conhecimento internacional suficiente...) como se percebe que deve saber... não são apenas os portugueses que dizem mal de si próprios, mas todos os seres humanos de qualquer país do mundo!

Mensagens populares deste blogue

Millennium de Stieg Larson: Os homens que odeiam as mulheres

A memória cada vez mais triste do 25 de Abril