Olhar as Flores como elas Merecem


As vezes, passeando numa tarde quente, observando as primeiras flores da Primavera, procurando sempre encontrar uma que seja mais rara, que se distinga das demais, que seja efectivamente única...nem sempre, mas pode acontecer que se encontre...

A maioria das flores, vibrando ao ritmo de uma brisa morna, trepidantes com as visitas dos insectos, ainda poucos nesta altura do ano, são bonitas, mas muito frequentes, quase banais. Sempre com a sua beleza, principalmente se olharmos de perto. E elas ali estão para isso, para as vermos com mais cuidado e atenção, e não numa apenas visão de conjunto...

...se as olhamos uma segunda vez, conseguimos ver detalhes que na nossa habitual pressa e desinteresse, no nosso descuido geral, não havíamos visto. E sempre se descobre algo mais, no que julgávamos ser mais uma flor, igual a tantas outras. Mas não será assim, ou mesmo....nunca é.

E seguindo por esses banais prados de arrabaldes de uma cidade, baldios à espera do seu juízo final, também conseguimos sempre ver mais uma flor, por vezes bem mais pequena, na dimensão, mas não na sua beleza.

Com os nossos pensamentos, serenos ou confusos e tristes, felizes e enérgicos, também, com essa incompreensível alternância de momentos a sós, de ideias boas e pensamentos menos positivos, vamos fazendo esse esforço, afinal não tão custoso assim, porque a nossa confiança em nós e em alguém é sólida e boa e forte...lá vemos, mais uma! Mais uma pequena maravilha da naturza, uma flor que quase passa sem se ver, mas que está lá.

Tal como o vento que lhes bate ao de leve num dia quente e lindo de sol branco e cheio, a nós mesmos, bem dentro de nós e tantas vezes dissimulados, temos pensamentos, talvez pequeninos, talvez camuflados por outros mais evdidentes, mas nem sempre os melhores.

Tal como as flores, as pessoas. Tal como a beleza mais gritante e exuberante, a sólida e não menos vibrante beleza das pessoas, exige de nós outra, uma segunda, atenção. E então...! Vem-nos à ideia, o beijo e o arranhão...

Tantas vezes queremos deixar um beijo a alguém e acabamos por lhes oferecer um indesejado arranhão. O nosso esforço por vezes trai-nos. Tal como a brisa nas flores, que umas vezes as afaga doce e suavemente, outras lhes danifica a beleza.

Tantas vezes, e sem querermos, queremos a nós próprios beijar-nos os nossos mais queridos pensamentos, queremos levar connosco o doce sorriso do contentamento, do sucesso do nosso dia estampado na cara, e acabamos por nos dar um valente arranhão!

E então, saímos do nosso curto périplo numa tarde de ainda escassa canícula, com as flores na mente, e com ideia fixa, de tentar que o arranhão que nos demos, que demos a alguém, possa evoluir num beijo!

Um beijo de pensamentos, a alguém longe de nós, mas perto e bem cá dentro, um amigo, um irmão, um amante...um grande amor. Um beijo a nós e um beijo, especialmente, a quem tanto, e há tanto, o merece! Porque lhe havíamos dado um breve e ligeiro beijo, ou um tremendo arranhão. Nós...ou outro alguém!

Um beijo, então!

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