Reflexões, ou pura retórica.


Um dia acordamos e parece-nos tudo, quase, normal. Um dia saímos de casa e logo aos primeiros 'acontecimentos' nos damos conta de que esse dia é tudo, menos normal. Ou que, afinal, os outros dias também não o foram.

Porque vemos tudo, se não tivermos feito o esforço devido e honesto de usar outros meios (os dos outros, nomeadamente), pelos nossos olhos (uma composição complexa entre visão, mente e experiências acumuladas, nem todas, sempre positivas ou construtivas...) e nos deixamos levar (talvez nem possa ser de outra forma) no esmagamento que as rotinas diárias nos concedem, não fazemos a pausa que se impõe, para reflectirmos no que andamos a fazer, por vezes há anos, e na construção do mundo em que andámos a laborar...

E nesse dia, alguém, talvez consciente ou não, envia-nos um sinal, ou algo que assim interpretamos. E pomo-nos a pensar...

De que nos adianta esse distanciamento que, tantas vezes obsessivamente, vamos elaborando em relação ao mundo mais primário, mais automático, mais instintivo, mais animal, mas também mais genuíno, intelectualmente honesto, simples mas não simplório, como se de uma missão para toda a vida se tratasse? De que nos serve andarmos toda uma vida nessa azáfama de informação ou educação pessoais, se ela mais adiante ou mais atrás, nos pode conduzir ao afastamento de tantas coisas que são a estrutura básica da nossa sobrevivência e, consequentemente, parte essencial da nossa felicidade? Coisas como as mais pragmáticas das que nos sustentam a forma de vida razoável e sensata? Elaborar numa construção de mais aperfeiçoamento pessoal, mais informação ou, epíteto anti-social, cultura? E se isso nos afasta de tanta gente que, à medida da passagem do tempo, nos acaba por isolar?

'Remar contra a maré'...tem sempre um significado dúbio e pouco saudável, porque, desde logo a 'nossa maré' não é distinta das outras... e a nossa também é objecto dessa mesma actividade que leva tantas outras pessoas a tentarem levar a 'sua embarcação' contra as correntes' que se lhe vão surgindo.

Por obsessão? Obstinação? Teimosia pura e simples? E a quem a aproveita? Porque não deixar-se, apenas, levar nessas marés que por aí surgem?

Hoje, alguém me lembrou este meu sítio onde debito estes dislates de algum mundo interior, nem sempre tranquilo. Sinto-me agradecido, até pela consideração que me merece. Até pelo comentário elogioso. Mas não me sinto com uma energia ou capacidade de dar mais substância, de momento, às futilidades que, por aqui, vos podem maçar.


Comentários

Unknown disse…
Não é pura retórica, é uma reflexão...

Beijos
Olá 'Camões'. Obrigado pela mensagem. Vou seguir o teu blogue. Vai escrevendo!
Anónimo disse…
Que belo "esforço no tempo e na paciência para voltar a colocar o trem do blog em andamento.
Um abraço
BPG
Obrigado BPG! Veremos se o ritmo se mantém...(mais ou menos...)

Mensagens populares deste blogue

Millennium de Stieg Larson: Os homens que odeiam as mulheres

A memória cada vez mais triste do 25 de Abril