No teu regresso


Tu não vieste. Nem entraste na vida que eu ia vivendo.
Foste chegando. O teu efeito ia aos poucos sendo o meu sistema,
Fazias dos meus tempos a ideia que criava de ti.

Não chegaste como se entra numa vida que se suspende a si mesma.
O meu tempo foi uma vítima do teu melhor. A vítima bafejada.
O teu pouco ia agora ser o meu muito. O meu único.

Assim que te ias transformando no meu centro,
Ia desejando não me aprisionar de ti
Mas o teu espaço era o há muito esperado,
Ou era o desejo que o fosse.
A calma e a paixão lutavam em ti.
A tua vinda era esse ar que nos chega fresco com a noite,
Nos dias quentes amordaçados da minha preguiça de viver.
Ia vindo e eras esse duche fresco ao final de uma canícula de asfixiar.
Um ar novo que queria conhecer
Um ar que não queria, afinal, não ter.
Uma brisa humana de seda feita.
Uma nova vida na vida já velha.
Eras o ar respirável na poluição dos meus dias.

És…a minha brisa mais forte e profunda.
Fazes de mim um marinheiro que não quer porto,
Uma folha ao vento que não quer assentar,
Um ébrio que resiste a despertar.

Leva-me nessa brisa que trazes contigo.
Enlevo-te se me trazes a frescura envolvente.

Regressas onde nunca antes estiveste.
Mas onde vais tudo te será como se já vivido.
Porque… se vens, irás…comigo!


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