Violências


Assistimos todos, envergonhados, como portugueses, às imagens da violência perpetrada por uma aluna contra a sua professora, em plena aula.

Analisemos as imagens, visto não conhecermos os antecedentes que conduziram à situação.

A professora pretendia que a aluna lhe entregasse o telefone móvel. Presume-se que a referida aluna estivesse a usar o telemóvel durante a aula. Neste pressuposta, a razão só pode assistir à professora.

Como a professora insistia e a aluna resistia, assistiu-se a um “braço de ferro”, um preliminar de uma luta que até poderia ter tido mais gravidade. Assistiu-se, também ao incitamento à resistência, ou à violência, por parte dos outros alunos.

E, pela minha muito falível análise, não se assistiu objectivamente, a nada mais. Mas não será difícil inferir do restante. Do que pode ter conduzido à situação visualizada. Mas perguntemo-nos, em vez de tecermos considerações ou afirmarmos sem conhecimento de causa.

Terá aquela professora ascendente suficiente sobre os seus alunos? Terá capacidade de afirmação, do conteúdo das aulas e da disciplina necessária? Não devia ter desistido de recolher o telemóvel, para ali por termo ao que assistimos, deixando para momento posterior, uma atitude correctiva?

Terão feito bem os colegas da aluna em causa ao apoiarem e incentivarem ainda a um maior crescente de situação conflituosa? Não estarão, alguns pelo menos, alunos já envergonhados da sua atitude? Já sabemos, pelo menos publicamente, que a aluna já sentiu vergonha e arrependimento.

Que conduz a estas situações, cada vez mais frequentes e que, talvez, estas imagens possam agora ter ajudado a estancar, temporariamente ao menos, estes conflitos? E que conduz a que hoje, as aulas se desenvolvam, em grande maioria em ambiente ruidoso, de indisciplina e desrespeito, para com professor (profissional tal como os pais dos alunos, os quais, por vezes, até se dirigem às escolas, brandindo contra os professores e defendendo a indefensável indisciplina e má educação dos ses educandos) e colegas?

Agora, a minha parte opinativa.

Tudo começou após o imenso contraste de disciplina após 1974, entre o regime altamente repressivo e até castrador, e o agora laxista e desregulado regime, social e escolar. Depois, tudo tem ajudado. O povo é o mesmo. Inculto e irresponsável. Não em relação a tudo, claro. Mas em relação à importância da educação dos filhos. Com o sentido de aprendizagem, mais do que o das classificações. Como o gosto e prazer genuíno pelo saber e aperfeiçoamento pessoal. Este ambiente, nunca foi gerado em Portugal. Assim, na interpretação, legítima do ponto de vista de quem não vê outro interesse na escola, que não o de se encontrarem colegas e o do convívio, a escola é uma verdadeira ‘seca’.
E hoje é bem mais do que era há trinta ou quarenta anos.

São programas pouco interessantes e, por vezes, muito densos. São cargas horárias excessivas. Professores mal preparados, pedagógica e cientificamente. São alunos mal preparados em família, para um comportamento social adequado. São ministérios sem ideias e de atitudes leoninas, com pouco ou nenhum apetrechamento para a tarefa de gestão do ensino à escala nacional. São regulamentos pseudo-democráticos e laxistas. São pais que não assumem na íntegra as suas responsabilidades edcativas, São canais de televisão, como principais concorrentes e até adversários da Escola. São políticos imbecis, como os actuais, que, vendidos a votos, não tomam medidas impopulares, com vista a terminar com democracia em escolas. è muita coisa...e tudo leva ao mesmo. Anarquismo escolar e resultados escolares galopantemente degradados.



A violência, é algo de que normalmente nos envergonhamos após termos participado nela. E é algo que tem sempre, sempre, uma alternativa. Não violenta, mas de emoções controladas e de ‘bom senso’. Um povo que há mais de cinco mil anos nos vem ensinando isto mesmo, povo e religião, é precisamente aquele que agora é, mais uma vez, alvo da violência e prepotência de outro. O tibetano, os budistas. E a China arrogante e imensa sua vizinha. Os grandes contra os fracos, como sempre foi na história.

A aluna fisicamente mais potente contra a professora tímida e franzina. Um espectáculo degradante e indigno de um ser humano.

Sempre houve alternativa à violência, mas sempre foi mais fácil, e também mais primário, recorrer à agressão e ao fogo do entusiasmo irreflectido, ao exasperamento, ceder ao descontrolo eomocional, à violência. Todos sucumbimos, num ou noutro momento à tentação consumidora das emoções mais primárias. As nossas estruturas cerebrais mais primitivas têm que ver com as emoções. Situam-se na base do cérebro, no tronco cerebral e recebem os estímulos externos antes do cérebro mais moderno, o Córtex, parte funcional da nossa racionalidade. O nosso primeiro ímpeto é uma atitude totalmente emocional. Nada tem de mal. O controlo das emoções já faz parte das nossas tradições como humanos evoluídos. O controlo emocional, efectuado pelo nosso cérebro racional é o travão dos nossos sentimentos, mas também dos nossos mais acarinhados disparates. A cor da vida vem-nos da emoção. A estupidez, mas também o bom senso, vem-nos da razão. A emoção vem primeiro e é ela que nos faz sentir a felicidade. A razão tira-nos o prazer, mas chama-nos à moderação. A emoção é mais vida, mas há que dar tempo ao córtex.

Pensar nas consequências antes de agredir a professora. Antes até de iniciar burburinho numa sala de aula. Antes de mandar o Sócrates ‘àquele sítio - confesso que a este impulso tenho dificuldade em resistir, mas felizmente para mim , isto já se está a tornar moda ou epidemia nacional. Reflectir melhor antes de invadir o Iraque, antes de enviar tropas e esmagar o sentido nacional de democracia e independência de um povo sublime e sofredor, e eclipsar a sua cultura milenar, como o tibetano.

Há sempre alternativa à violência!

Comentários

Anónimo disse…
A violência existe nas escolas porque falta a autoridade e o castigo que seria devido por mau comportamento e delinquência.
Não se pode tocar nos meninos “nem com um dedo” e na falta de outros castigos eficazes, principalmente nas idades mais jovens, quando se começa a moldar o seu comportamento dentro da sala de aula e fora dela, resta a impunidade, que serve de incentivo para que cresçam os comportamentos anormais e a violência nas escolas e fora delas.
Que castigos utilizar então?
- Aplicar uma multa? Quem paga? Os alunos? Os pais? Muitos não têm meios com que pagar e ficarão impunes!
- Obrigar os alunos a ficar de castigo numa sala de estudo? Quando aqueles se aperceberem que nada lhes acontece se recusarem é isso mesmo que vão fazer: recusar o castigo.
- Expulsar da aula ou da escola? Não serve de nada, apenas se transfere para o exterior da sala de aula o problema. Esses jovens irão dar azo à sua liberdade doentia noutro lugar.
Os castigos físicos são condenáveis, mas, por vezes, são os únicos que têm algum efeito e as autoridades policiais sabem-no bem. Senão para que servem aqueles bastões compridos que os polícias usam nalgumas situações? e as outras armas que trazem?
As crianças não são assim tão diferentes dos adultos e até há um abuso de linguagem ao se apelidar de "crianças" todos os jovens dos zero aos dezasseis anos (logo dezoito), como que se a inteligência e a capacidade de distinguir o bem do mal chegasse na noite em que completam aquela idade. O Desenvolvimento humano nem é todo igual: há jovens com dez anos mais desenvolvidos, experientes e astutos do que outros com catorze, quinze e mais... Há até pessoas já adultas que nunca atingiram um nível de desenvolvimento aceitável (são obviamente deficientes mentais).
A maioria das crianças e jovens não são delinquentes e pode ser corrigida de qualquer desvio através de uma simples conversa, mas basta um "rebelde" para boicotar uma aula e para arrastar consigo outros mais pacatos que não levantariam qualquer problema.
Os colegas mais humildes são as primeiras vítimas e a escola não tem hoje maneira de as proteger a não ser que as isolassem dos mais violentos. Mas não será injusto permear os delinquentes com a liberdade enquanto se fecham os restantes alunos ainda que para a sua protecção? Mesmo assim ficam expostos quando entram e saem da escola. Isto lembra os “condomínios fechados” onde quem pode se protege da violência exterior sem ficar completamente imune porque tem que entrar e sair desses locais.
Algo deve mudar no ensino e na forma de castigar os desvios dos jovens, senão estamos, sem o saber, a criar pequenos “monstros” que nunca se habituarão a cumprir regras sociais, que serão uns inúteis e que viverão sempre à custa do trabalho alheio, porque é mais fácil.
Um dia as ideias que agora dominam, de não aplicar quaisquer castigos físicos, em quaisquer circunstâncias, terão que mudar: o que é hoje um conceito aceite e indiscutível será um dia posto em causa pelos futuros pedagogos. Houve no passado uma inversão nos castigos admissíveis nas escolas e outra acontecerá inevitavelmente no futuro.
Os castigos físicos são por ora condenados pelas nações ocidentais, pela EU e pelo nosso país. Assim, as mudanças começarão primeiro nas principais nações (EUA, UK, França..), que se aperceberão em breve da necessidade da reposição de alguns castigos físicos e terão que o fazer. Os pais também irão aceitar e compreender essa necessidade para a protecção dos seus filhos dos poucos jovens com procedimentos anormais. Os castigos físicos eram bem tolerados pelas anteriores gerações de pais e não está provado que tivessem um nível de testosterona inferior ao dos actuais pais.

Quanto à educação dada pelos pais, pergunto: e quando os pais são eles próprios marginais, como vão educar os seus filhos?

Zé da Burra o Alentejano
impulsos disse…
No meu tempo, não havia cenas destas, nem sequer parecidas!
E não foi assim há tanto tempo... vinte e poucos anos atrás.Pois, se calhar já foi mesmo há muito tempo!
Mas nesse tempo, havia uma coisa que se fazia e que geralmente resultava: a expulsão da sala de aula, com direito a falta injustificada, que, se ultrapassado o número aceitável, daria como resultado um redondo chumbo.
E isso, a maioria não queria!
Claro que também havia os que ali andavam por andar e tanto lhes fazia...mas mesmo esses, tinham muito mais respeito do que se vê hoje por aí.

É... se se pensasse um pouco antes de agir, decerto que muitas situações desagradáveis se evitariam.
Mas o sangue ferve e em alguns, é quase inevitável o passo seguinte que os precipita na fogueira da violência!

Li e assino em baixo o comentário do anónimo ali de cima!

Beijo
Anónimo disse…
A "Impulsos"

O problema é que a estatística da escolarização dos jovens portugueses deve apresentar altos indíces rapidamente para demonstrarmos ao exterior o sucesso do nosso ensino e há que impedir a todo o custo que os nossos alunos fiquem retidos dois anos (ou mais) no mesmo ano, nem interessa o que aprenderam. Só interessa a estatística.

Zé da Burra o Alentejano
impulsos disse…
Pois... provavelmente será isso mesmo.
É um conjunto de situações que provoca o caos a que assistimos diariamente, fora os outros que nem sabemos!
Enfim... sinais dos tempos que correm, para um futuro incerto e com jovens que serão a sociedade desss tempos incertos e que se adivinham, cada vez mais conturbados.
Agradeço os vossos excelentes comentários.

Zé da Burra

Concordo plenamemte com a ideia da 'Estatística' e do uso de números quasi-virtuais, para criar influências, clientes e eleitores, para quem necessita
de votos, para ter lugares, para ter vida, porque dependem sempre do Estado.

Impulsos

Gostei dos teus comentários. E concordo parcialmente, pelo menos. Acho inquestionável a necessidade da disciplina. Nas escolas e fora delas. Mas há que ter atenção aos tempos e aos sinais que nos chegam todos os dias. Sem subverter a necessidade de educar, preparando para uma sociedade com regras e com respeito mútuo, numa lógica de democraticamente se saber respeitar e considerar a liberdade de todos.

Mas o meu texto pretendia ir um pouco além do caso da indisciplina escolar. Misturando conceitos e ideias. Como me dá tanto prazer fazer.

Obrigado por abrilhantarem este meu espaço, como os vossos comentários inteligentes.

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