Estado-vergonha


Não vivemos uma época de Estados Providência. Já sabemos. Mas os Estados de Direito europeus, onde a cultura social sempre tem conduzido a níveis de protecção elevados, baseados em princípios de equidade, solidariedade, ética e responsabilidade, têm, por tradição, bases intelectuais, políticas e económicas que nos distanciam de outros continentes, culturas, e blocos económicos, tais como os EUA ou mesmo o Japão.


Portugal devia pautar-se pelo respeito de tão sedimentadas tradições, princípios e comportamentos.


Portugal, inserido neste imenso espaço democrático e apologista de um moderno multiculturalismos, devia começar, na pessoa da Administração do Estado, do Governo eleito, para bem ou para mal, devia dar o exemplo, a agentes económicos e à sociedade em si mesma.


A prática da nossa Administração política, eleita para nos melhorar as condições de vida, defender os acima apostos princípios éticos e democráticos, é bem diversa de tais tradições europeias. O nosso Governo continua a patrocinar a negação destes comportamentos esperáveis, e com uma mão tira aquilo que propagandeia, com a outra, numa lógica altamente reprovável de desprotecção social. Através do emprego digno e na linha do que afirma serem os seus guias na melhoria das condições de vida e da formação individual profissional de cada português.


Nos institutos, altas autoridades, provedorias, serviços públicos e outras áreas de actuação próprias do Estado (mesmo que por exagero, clientelista e provinciano tais altas autoridades e institutos nem devessem existir…) que todos os dias se multiplicam, pratica a mais reprovável política de emprego, que apregoa querer combater.


O Estado, ou a sua administração, dão ocupação laboral - não posso honestamente considerar emprego - a jovens licenciados - num país com a mais elevada taxa de desemprego de licenciados da Europa, 60.000 ou mesmo mais - a quem lhes paga, através de empresas de trabalho temporário, valores como mil e cem euros mensais, dos quais só metade ou menos serão pagos a cada jovem. Ou seja, o Estado patrocina vencimentos indignos, de cerca de quinhentos euros, mas paga às empresas de trabalho temporário o dobro. Porque não quer que a estatística faça aumentar o número de funcionários? Porque tem contratos milionários, ou têm-nos alguns negociadores do Governo (Ministros, secretários de Estado? Ou quem?) com tais empresas?

Um jovem poderia receber mil ou mais euros directamente da Administração Pública, mas ao invés, recebe metade e vê a sua situação, todos os meses manter-se precária. Neste mesmo país, ainda se faz propaganda inócua sobre a formação dos jovens. Neste país, há menos licenciados por habitante do que em qualquer outro da Europa. E mais, muitos mais, sem trabalho, do que em algum outro da União Europeia.



Mas este Governo, que diz de preocupações sociais, mantém e faz crescer esta indigna situação. Não investe na formação dos seus quadros mais qualificados e mantém em cargos de chefia imensa gente desqualificada, a comandar os destinos de sectores onde se inserem jovens da mais recente e eficiente preparação universitária. E traz o desalento e desmotivação, indignamente, a milhares de jovens.


Todos os meses, durante anos e anos.

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