Erros que se pagam muito caro

Fui dos que considerei que Sampaio, após a saída de Durão Barroso para Bruxelas, devia ter feito, o que fez, ao nomear Santana (PSL) para formar Governo.

Penso, aliás estou hoje certo, de que tal análise tinha que ver mais com simpatias políticas- numa análise comparativa, entre o que , na altura, se nos apresentava como alternativa: Santana ou Ferro Rodrigues- do que com a convicção profunda das reais capacidades e aptidões para o cargo.

Presentemente, porém, tenho outra certeza. Esta mais reflectida: Santana deveria ter forçado, o mais possível, a realização de eleições, no momento em que Ferro as pretendia. As possibilidades do PS seriam mais ou menos idênticas às que actualmente dispõe, em termos de vencer e ter um bom resultado eleitoral. Mas as de Santana ser-lhe-iam, seguramente, mais favoráveis.

Santana é muito melhor em campanhas eleitorais, comícios, reuniões mediáticas, do que como gestor político, ou líder mesmo, do partido dele.

Está muito melhor no papel que agora vai desempenhar, na campanha do que naquele em que esteve nos últimos quatro a cinco meses, como chefe do Governo.

Assim, e independentemente de considerarmos que se ganhasse, eventualmente, as eleições a Ferro Rodrigues, tal seria positivo para o país- os elementos mais recentes apontam em sentido oposto- a discussão política naquela fase seria mais proveitosa para todos: para o PSD, para o PS e para o país.

E poderia ainda o PSD, ganhar algum tempo para aprofundar, numa discussão interna, se deveria indigitar o próprio Santana para "candidato a primeiro-ministro" (figura que, na realidade, não existe no nosso panorama político, pois são todos candidatos a deputados à AR) ou indicar outra personalidade, deixando-se ficar como líder do partido, apenas. Ou teria o PSD tempo e, assim, o país, para realizar todas as discussões internas conducentes a uma eventual substituição de Santana Lopes à frente do seu partido.

Ao partir para um acto eleitoral na situação em que parte, verdadeiramente em desvantagem, por ter deixado deteriorar (ainda mais) a sua imagem pública, após todas as trapalhadas de que temos conhecimento, nós eleitores, deixa o próprio país com menos alternativas de escolha, o que é manifestamente mau em democracia.

Toda a preocupação de Santana e do PSD deveria ter sido esta: dar a si mesmo, partido e líder, as mesmas possibilidades de concorrer em igualdade, com o actual líder do PS. Ganharia Portugal, claramente.

Neste momento esta é uma análise injusta, bem sei. Pois é fácil, por ser posterior a tudo ao que aconteceu desde o fim do Governo de Durão, com os erros em exponencial que se foram sucedendo, por parte do Governo de PSL e do PSD. Mas, infelizmente, poucas seriam as pessoas capazes de fazer uma análise nesta direcção, na altura em que parecia mais importante fazer frente e contrariar a estratégia de Ferro, do que actuar de forma mais racional.

Erros destes...têm custos demasiado elevados e o PSD talvez ainda não esteja bem ciente do preço a pagar...

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